domingo, 1 de janeiro de 2012

Intoxicação por Organofosforado


 

Intoxicação por Organofosforado
Autor: Ricardo Furlan Alonso
Instituição:
Tema: Intoxicação por Organofosforado
Data de inclusão: 22/04/2003
Intoxicação por Organofosforado

INTRODUÇÃO
Os organofosforados e outras classes de produtos pesticidas podem ser facilmente comparadas pelas donas de casa para uso doméstico e jardinagem. Os inseticidas a base de organofosforado, que são altamente tóxicos, tem recebido a preferência de alguns de algumas pessoas, em suas tentativas de envenenamento de cães. Os cães podem ingerir formulações de produtos peletizados ou granulares, que visam principalmente o controle das formigas dos gramados, ou que servem para a eliminação de pulgas e carrapatos. As iscas granulares para moscas que é espalhada sobre superfícies, acaba sendo imediatamente ingerida por cães. Estas iscas contém como principio ativo organofosforado, e alguns gramas de isca constituem-se numa dose tóxica para cão de porte médio.

SINAIS CLÍNICOS
Estes agentes inibem a colinesterase através de ligação co-valente (fosforilação) com o grupo hidroxil da serina presente no sítio esterásico da enzima; alguns organofosforados ligam-se em ambos os sítios ativos desta enzima. Certos agentes torna-se ativos somente após biotransformação, como, por exemplo, o paration, que é convertido a paraoxon, sendo este mais tóxico. Por outro lado, o malation é um praguicida amplamente utilizado e, após a biotransformação, resulta em produtos que são rapidamente biotransformados pelas esterases plasmáticas.
Geralmente os sinais clínicos tem início dentro de minutos até uma hora após a exposição a dose tóxica. O contato dérmico com banhos ou nebulizações pode fazer com que o envenenamento exiba sinais após lapso de tempo mais longo. A exposição recente a outros organofosforados pode ter reduzido os níveis de colineterase, o que aumentará a suscetibilidade.
Podem ocorrer salivação, lacrimejamento, micção e defecção. As fasciculações musculares são evidentes, as pupilas apresentam estenose, a menos que o animal se encontre em choque. Podem ocorrer convulsões em casos graves, podem também ocorrer depressão, fraqueza e paralisia. Uma depressão grave acompanhada a uma intoxicação intensa. Broncoconstrição, congestão pulmonar e edema pulmonar contribuem para a angústia respiratória. A morte é decorrente da paralisia da respiração e do edema pulmonar.
Na junção neuromuscular os anticolinesterásicos produzem aumento da contração da musculatura esquelética. Após inibição da acetilcolinesterase, o tempo de permanência da Ach na sinápse aumenta, permitindo a sua constante estimulação dos múltiplos receptores colinérgicos nicotínicos e muscarínico no caso do SNA parassimpático. A estimulação excessiva em prolongamento do decaimento do potencial de placa motora. Observa-se excitação assicrômica, bem como fibrilação das fibras musculares. Com a inibição suficiente da acetilcolinesterase, a despolarização da placa motora predomina e ocorre bloqueio em virtude da despolarização excessiva. Os agentes anticolinesterásicos revertem o antagonismo causado pelos bloqueadores neuromusculares competitivos.
No trato gastrointestinal a intoxicação por orgaofosforados promovem o aumento das secreções do trato gastrointestinal, contração da musculatura lisa e relaxamento dos esfíncteres. O efeito dos anticolinesterásicos sobre a motilidade intestinal representa uma combinação de ações sobre as células ganglionares do plexo de Auerbach e sobre as fibras musculares lisas, em consequência da preservação da Ach liberada pelas fibras colinérgicas pré- e pós-ganglionares, respectivamente.
No sistema respiratório observa-se broncoconstrição e aumento das secreções, conduzindo a dispnéia e respiração ruidosa.
No sistema cardiovascular, os efeitos cardiovasculars dos anticolinesterásicos são complexos, pois refletem tanto os efeitos ganglionares quanto os pós-ganglionares do acúmulo de Ach sobre o coração e vasos sanguineos. Há tendência de predomíno do tônus do SNA parassimpático, conduzindo a bradicardia e vasodilatação, porém, em consequência de mecanismos compensatórios, podem ocorrer episódios de taquicardia e vasoconstrição. Aliando a isto, a Ach liberada na adrenal promove a liberação de noradrenalina/adrenalina, responsáveis pelo predomínio do tônus do SNA simpático, podendo assim, ocasionar parada cardíaca devido ao excesso de contratibilidade provocada pela Ach aumentada.
No olho, quando aplicados diretamente no saco cojuntival, os anticolinesterásico causam hiperemia da conjuntiva e contração do músculo esfíncter pupilar, causando miose, e do músculo ciliar, promovendo bloqueio do reflexo de acomodação, com consequência focalizarão para visão próxima. A pressão intra-ocular, quando elevada, costuma cair em decorrência da facilitação da drenagem do humor aquoso.
Nas glândulas exócrinas os anticolinesterásicos produzem aumento nas respostas secretoras das glândulas brônquicas, lacrimais, sudoríparas, salivares, gástricas, intestinais e pancreáticas acinares.

TRATAMENTO DA INTOXICAÇÃO
Os efeitos muscarínicos podem ser controlados com doses adequadas de agentes antimuscarínicos como a atropina.
Nas intoxicações por organofosforados podem-se utilizar também os reativadores das colinesterases: as oximas; a pralidoxima é uma das mais utilizadas. As oximas são moléculas que possuem um nitrogênio quaternário (N+) que se liga ao sítio aniônico das colinesteráse e, assim, as oximas podem deslocar a ligação dos organofosforado junto ao sítio esterásico, estabelecendo-se a ligação oxima-organofosforado, reativando a enzima. No entanto, a efetividade do tratamento depende do emprego precoce da oxima logo após a exposição ao organofosforado e do sítio esterásico da enzima (quando mais estável, mais difícil tornar-se a reativação enzimática).
Os animais cianóticos, gravemente envenenados, podem necessitar de oxigênio adicional antes da atropinização, para que seja evitada a possível fibrilação ventricular. A atropina é levemente administrada (0,2 a 0,4 mg/Kg) IV levemente, durante 5 minutos. Pode haver necessidade de dose adicional de atropina em alguns casos, para que seja obtida a resposta desejada. Uma resposta favorável é observada dentro de 3 a 5 minutos; constitu-se de ressecamento das membranas mucosas orais e num alívio do broncoespasmo. Poderemos repetir a atropina, segundo a necessidade para o controle dos sinais, em dose IV ou SC mais baixas.
A recuperação do envenenamento por organofosforado não é tão dramática, devido, talvez a lenta absorção/eliminação do pesticida, e/ou sua retenção no tecido adiposo e retratado na eliminação, como é o caso com o clorpirifós no gato. A manutenção de carvão ativado no trato gastrointestinal, mediante a administração de pequenas doses ao longo de diversos dias, poderá "capturar" maiores quantidades do pesticida (que está reciclado através da saliva e da bile). Deve ser evitada a contínua absorção através da pele e pêlos contaminados, ou retorno ao ambiente contaminado. A fraqueza neuromuscular ocorre 24 a 96 horas após o controle dos sinais colinérgicos tem levado a angústia respiratória em seres humanos intoxicados com fention, dimetoato, ou monocrotofós.
O cloreto de pralidoxima (2-PAM, cloreto de protopam), um reativador da colinesterase, deve ser administrado como solução a 10%, na base de 20mg/Kg para gatos e 40mg/Kg para cães por injeção IV lenta, ou mesclado a líquido apropriado, ao longo de 30 minutos. A via intramuscular poderá ser utilizada nos tratamentos subsequente, no caso haja necessidade. Após a exposição a organofosforado, a resposta aos reativadores da colinesterase diminui com o tempo, portanto, deverá ter início dentro de 24 a 48 horas. Parece haver alguns benefícios decorrente de seu uso em animais que foram envenenados vários dias antes, quando há envolvimento de compostos lentamente eliminados, como o clorpirifós.
A fluidoterapia tem um importante papel no tratamento de animais intoxicados por organofosforado, o uso da fluidoterapia auxilia na eliminação espontânea da substância tóxica em questão através da micção espontânea e também auxilia no combate da desidratação que apesar de branda se apresenta nos casos de animais com episódios de vômito e principalmente a sialorréia. Deve-se ter certa cautela durante a fluidoterapia, pois o organofosforado provoca um quadro característico de edema pulmonar oque pode se agravar com a fluidoterapia feita erroneamente e podendo levar o animal a morte. O fluido ideal seria o Glicofisiológico, este fluido auxilia na reposição de água perdida pelo organismo e a glicose auxilia o fígado, ajudando assim a reverter mais rápido o quadro de intoxicação.

Esquema de uma sinápse colinérgica normal
- Em preto, observamos a acetilcolina fazendo a sinapse e em vermelho observamos a acetilcolinesterase fazendo a lise da acetilcolina.
Esquema de um neurônio colinérgico intoxicado por organofosforado
Legenda
1 – Acetilcolina acumulada no receptor
2 – Acetilcolinesterase ligada ao organofosforado
3 – Organofosforado ligado a acetilcolinesterase

BIBLIOGRAFIA
ETTINGER. J. S; tratado de medicina veterinária interna; 4ºed;Editora manole; São Paulo 1997
SPINOSA, S, H; GÓRNIAK, L, S; BERNARDI, M, M; farmacologia aplicada a medicina veterinária; 2º ed; editora guanabara; Rio de Janeiro 1999

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